SOU IDOSA...E DAÍ?

Cheguei aos 70 anos e às vezes fico a pensar que os anos passaram rapidamente. Graças a Deus, tenho relativa saúde para aproveitar as oportunidades que a aposentadoria oferece (afinal de contas, foram 30 anos dando aulas). Posso viajar, ler, escrever, participar de atividades na igreja, curtir os netos, gozar a vida, cultivar amizades. Imaginem que até hoje tenho contato com uma coleta no antigo ginasial em Resendo. Isto há exatamente 55 anos...
Curto as compensações que a idade me oferece. Posso entrar e sair pela porta da frente nos ônibus. Não precisar passar pela roleta parece uma conquista! Pagar meia entrada em cinema, muito bom... Ter descontos em sessões de teatro, jóia!!! Ter prioridade nas filas de bancos, supermercados, repartições, é uma boa economia de tempo e energia.

Affonso Romano de Sant'Anna diz em uma de suas crônicas:"Nunca vi o Sol se queixar ao entardecer. Nem a Lua chorar quando amanhece". Tenho pena das pessoas que não dão valor aos anos já vividos, às experiências acumuladas. Tudo parece difícil, pesado, angustiante. Não sabem tirar proveito do que já vivenciaram, das tristezas e problemas superados, das alegrias no decorrer dos 365 dias de cada ano. Como é triste a realidade para elas. Queixam-se de tudo e de todos, como se só a juventude valesse a pena.

Já tive oportunidade de participar de dois congressoas de Clubes da Melhor Idade do Brasil. O primeiro foi em Santa Catarina. Nos primeiros dias as reuniões foram em Florianópolis. Depois partimos de ônibus para conhecer as principais cidades daquele estado. Como era gostoso ficar na "cozinha" do ônibus, contando piadas, rindo, ouvindo falar também de experiências dolorosas. Sim, no grupo, havia não poucas pessoas que já tinham passado por problemas os mais variados . Elas narravam suas histórias, que eram acompanhadas com muita atenção por todos. Logo depois, alguém sugeria: a partir de agora, vamos falar só de coisas alegres. E o riso voltava a ser contagiante.

O segundo congresso foi em Manaus. Algumas pessoas já eram conhecidas do congresso anterior, outras eram novas. Mas o clima de descontração era o mesmo. Fomos conhecer o "encontro das águas" (um espetáculo da natureza, quando as águas escuras do Rio Negro se "encontram" com as águas mais claras do Rio Solimões - imperdível!) Que tal visitar o Hotel Aruaru, em plena floresta amazônica. E mesmo pessoas com dificuldades de locomoção faziam parte da excursão. Havia ajuda mútua e ninguém precisava ficar presa no hotel. Parecíamos todos jovens de vinte anos...

Ninguém pode deixar de ler Perdas e ganhos, da gaúcha Lya Luft, livro publicado pela Editora Record, que, não sem razão, ocupou a lista dos mais vendidos durante muitas semanas. É uma lição de vida, que joga por terra qualquer pessimismo, sentimento de derrota, falta de objetivo.

Precisamos viver com intensidade o hoje, o presente. O passado não volta mais e o futuro não nos pertence. Como já disse alguém, é preciso curtir cada minuto, cada instante como se fosse o último de nossas vidas.